Review CHROMAKOPIA - Tyler, The Creator
3 anos. 3 anos foram o tempo que o Tyler tomou pra lançar seu mais novo álbum de estúdio e olha... quem espera sempre alcança mesmo porque puta que pariu.
3 anos. 3 anos foram o tempo que o Tyler tomou pra lançar seu mais novo álbum de estúdio e olha... quem espera sempre alcança mesmo porque puta que pariu.
Olha serei sincero aqui e direi que: de TODOS os artistas já citados no blog, o Tyler é o que eu menos escuto ou quase não escuto, mesmo ele sendo o criador de uma das minhas músicas favoritas (EARFQUAKE) eu mal o escuto. Claro, See You Again (ft. Kali Uchis) eu escutei muito mas era mais pela versão ao vivo, agora ele em si eu jamais dei uma foda e não era por mal e sim porque o gênero de rap ao todo eu não sou chegado mesmo, vivo ouvindo Laurynn Hill e acabou. Quando Tyler, The Creator volta depois de três anos após CALL ME IF YOU GET LOST, muita especulação aconteceu mas o fato de que seria um bom álbum era indiscutível.
Com um pouco menos de uma hora de duração, CHROMAKOPIA é o resultado de algumas coisas, coisas essas que vamos ver agora:
• St. Chroma (ft. Daniel Caesar): Primeira faixa do projeto, a abertura dele contém um áudio da própria mãe do Tyler mandando o papo: nunca, jamais, deixe sua luz interior ser apagada por conta dos outros. St. Chroma é uma exploração profunda da identidade e liberdade pessoal, além de dizer sobre a luta interna e incessante entre manter sua luz interior acesa ou se retirar graciosamente. A música como um todo define precisamente o tom do disco, e podemos ter noção disso na faixa a seguir.
• Rah Tah Tah: Seguindo o clímax deixado no final de St. Chroma, Rah Tah Tah é um rap de ostentação mas se engana quem pensa que é um rap de ostentação genérico. Aqui Tyler se gaba e acima de tudo afirma - em tom de desafio - ser uma força a ser reconhecida, relembrando sua trajetória e como ele tem o que tem. O instrumental pesado e intenso junto da constante repetição das frases "roll my windows up, darlin'" e "steppin' on the gas" indicam alta velocidade no que quer que ele esteja fazendo (no caso sobre seu trabalho), e que ele não pretende parar.
• Noid: Na terceira música do álbum, Tyler fala sobre paranóia e o sentimento de estar sendo constantemente observado, por sinal eu não disse anteriormente mas nas outras duas faixas ele passa brevemente sobre a questão da paranoia. Diferente das outras duas faixas anteriores, aqui Tyler explora visceralmente o tema, e como o disco todo gira em torno de dois pontos centrais - sendo a paranoia um deles -, uma coisa que cai como uma luva aqui na faixa é justamente o outro ponto central do disco: os conselhos da mãe do Tyler para seu filho. Perto do 3º minuto pra frente, a mãe de Tyler aparece novamente e com o seguinte conselho: não confie em ninguém, seja no sucesso seja no fracasso, guarde tudo para você.
• Hey Jane: Quinta faixa do disco e aqui vocês me perdoem, mas a dona Bonita Smith (sua mãe) mandando um "queridinho nunca faça no pelo, use camisinha viu bb" (em minha tradução) me faz rir, mesmo sabendo que o tema é a descoberta de uma gravidez e todas as decisões complexas que virão a seguir após a descoberta, tendo o ponto de vista do futuro papai e da futura mamãe e a pressão que cada um sofre em cima dessa situação. A música também se aproveita da pequena história sendo contada para explorar a vulnerabilidade e incerteza que acompanham decisões importantes e significativas.
• I Killed You: A sexta faixa do álbum é uma música interessante, na qual aborda de maneira introspectiva e complexa a relação de muitas pessoas pretas com seus cabelos, como muitas vezes os padrões eurocentristas e o racismo da sociedade geram uma pressão descomunal nas pessoas a ponto delas se adequarem ao padrão estético daquela branquelinha que caiu no poço mas tem o cabelo longo e liso. A música falar sobre 'matar' o cabelo natural é só mais uma forma de externalizar a dor e vergonha resultadas dessa conformidade forçada.
• Judge Judy: Na sétima música do álbum, Tyler explora bastante os temas de aceitação e não julgamento com outras pessoas, seja em suas relações pessoais ou em seu passado. O nome da música também faz uma referência a Judge Judy, figura famosa da televisão norte-americana por seus julgamentos diretos e as vezes severos; aqui Tyler faz exatamente o oposto.
• Sticky (ft. GloRilla, Sexyy Red & Lil Wayne): Em Sticky, Tyler junto de GloRilla, Sexyy Red e Lil Wayne fala sobre situações complicadas, e a repetição quase que sem parar da palavra Sticky (ou grudento/pegajoso em português) ressalta e sinaliza tensão, e tensão crescente, indicando que a qualquer momento as coisas podem sair do controle. Sticky também pode se referir a situações pessoais e sociais que são difíceis de manejar, tudo isso enquanto fala (também) sobre identidade e autoafirmação.
• Thought I Was Dead (ft. ScHoolboy Q e Santigold): Saltando pra décima primeira faixa do projeto, Thought I Was Dead é uma reflexão sincera do Tyler a respeito da indústria atualmente e ele dando seus vinte centavos sobre a superficialidade encontrada frequentemente por aí na indústria. Além disso, Thought I Was Dead é também uma música que fala sobre autoconsciência e faz uma exploração do custo pessoal da fama. Minha favorita do disco junto de Like Him que citarei logo mais (literalmente faixa a seguir).
• Like Him (ft. Lola Young): Antes de começar eu gostaria de perguntar genuinamente se o pessoal do TikTok que criou uma trend em cima dessa música sabe ler, porque olha...
Like Him é - tranquilamente - a música de cunho mais pessoal do Tyler, The Creator nesse álbum, já que além de falar sobre uma busca por sua identidade ela também fala sobre essa busca enquanto não se tem uma figura paterna, tanto que o 'pai' do Tyler é citado como um fantasma e não é por pouco: a repetição da frase "minha velha eu tô caçando um fantasma" enfatiza a frustração e a confusão de Tyler ao tentar encontrar (sem sucesso) traços de seu pai em si mesmo, seja em traços físicos, trejeitos, maneirismos.
Por outro lado, Like Him também ressalta o amor da mãe do Tyler pelo seu filho e como ela fez o melhor que pôde para criá-lo e dar a ele amor, carinho, proteção e orientação durante sua infância e adolescência. Bem no final da música ainda tem uma revelação bombástica pique novela na qual a dona Bonita admite que o fato do Tyler não ter uma figura paterna presente em sua vida é culpa dela, deixando claro que ele não foi cuzão com o filho e sim que ele foi vítima de circunstâncias alheias. No final de tudo, a música não só ganha uma outra camada de complexidade como também mostra que a música fala sobre perdão.
E só pra encerrar o tópico da trend: gente tem coisas que é bom só deixar quieto, sabe, quem sabe daqui a três anos no futuro fosse propício criar essa trend né, mas quando ainda tá meio pesado o clima... não, apenas não.
• I Hope You Find Your Way Home: Indo direto pro encerramento do disco, a décima quarta música do projeto é algo mais tranquilo, mais sereno, que explora sobre o equilíbrio entre liberdade e pertencimento. A música também convida os ouvintes a refletirem sobre seus próprios caminhos e o que é realmente 'encontrar seu caminho para casa'.
Considerações Finais: Os desgraçados que cantam a bola desde IGOR que Tyler, The Creator é um dos big3 do rap finalmente tiveram como tatear essa realidade com seu mais novo disco, porque minha nossa senhora como ele além de fazer música ele também faz Arte. CHROMAKOPIA é uma jornada reflexiva que colide bastante entre o Tyler provocador e o Tyler nômade, que só quer ficar de boa em paz fazendo seu som sem ter a natureza intrusiva da fama na sua porta enquanto ele tá de samba canção tomando uma Itaipava assistindo a final do Super Bowl no conforto de sua casa.
A cada novo projeto, Tyler alcança e estabelece novos patamares que o consolidam como uma força a ser reconhecida seja somente no mundo do rap como também na indústria musical como um todo e não poderia ser por menos, um artista que se desafia e estabelece seu próprio parâmetro a ser seguido é definitivamente um marco e tanto.
Nota: 9.8/10.0
3 anos. 3 anos foram o tempo que o Tyler tomou pra lançar seu mais novo álbum de estúdio e olha... quem espera sempre alcança mesmo porque puta que pariu.
Imagina você ser tão ruim e tão falso que te fazem uma música pontuando que você é uma pessoa asquerosa. Aí se passam dez anos após a música... E VOCÊ CONTINUA ASSIM.
Dia primeiro de setembro de dois mil e vinte e um, o dia que eu fiz a primeira (e até então última) review de algum projeto ou lançamento da Halsey, e caramba galera mais de 3 anos depois muita coisa acontece nas nossas vidas, né? Na dela então... parece quase uma Demi Lovato.